Práticas insubmissas: feminismos e subversões à colonialidade
Práticas insubmissas: feminismos e subversões à colonialidade
Proponente: Carla Cristina Souza1
Debatedora: Maria Eduarda Rodrigues da Silva
Descrição: Propomos um grupo de trabalho que possa reunir as mais diversas
modalidades de escritas a partir de um fazer acadêmico que se desloca do eixo
eurocêntrico e hegemônico, numa aposta epistêmica pós-cololonial e decolonial da
produção de conhecimento. Buscamos nos encontrar com trabalhos da Antropologia na
sua interdisciplinaridade com as diversas áreas das Ciências Humanas que, desde suas
escritas interseccionais, crie diálogos com as perspectivas dos feminismos subalternos,
transfeminismos, putafeminismos, feminismos negros entre tantas que fazem críticas
aos modos de organização social estruturado pela modernidade/colonialidade, pensando
as diferenças como raça/etnia, classe, gênero, sexualidade, geração, deficiência…
Buscamos criar um espaço para diálogos subversivos que transgridem, fraturam, o
Estado colonial, desde suas críticas às matrizes de inteligibilidades que criam corpos
precarizados, não-humanos, enquanto concomitantemente criam os corpos humanos,
num processo que a autora Toni Morrison (2019) chamou de “outremização”. Contudo,
também apostamos em escritas que conversem com autoras fora do eixo
europa-estados-unidos, que pense nas constituições dos modos de vida e subjetivações
desde a américa-latina, contexto no qual nossos corpos se territorializam.
Palavras-chave: feminismos, interseccionalidade, contra-hegemonia
‘‘Enfretamento ao Patriarcado Pelas Brechas do Estado – Pontes Possíveis de Diálogos Entre Lélia Gonzalez e Rita Laura Segato”
- Gisely Theodoro de Alencar; Simone Becker
Resumo: A violência do Estado é um dos efeitos dos pilares da colonialidade que se sustenta pelas interligação das categorias de opressão e que tem como alvo corpos sinalizados pelas categorias de gênero, raça, classe e etnia. Uma das óticas possíveis para a identificação dos efeitos da colonialidade patriarcal nos corpos subalternizados é a persistência da violência contra mulheres. Escrevendo na contramão do patriarcado, as autoras Lélia Gonzalez e Rita Laura Segato evidenciam movimentos de resistência ao colonialismo e produzem reflexões fundamentais para uma análise cultural que visa coompreender a arena de disputas desigual pelo poder. Os trabalhos das autoras podem dialogar entre si no que tange concepções de gênero, colonialidade, cultura e patriarcado e como essas temáticas se entrelaçam na construção do Estado e seu padrão de opressão contra corpos marcados pelos papeis simbólicos de gênero.
”A Casa Grande e a Senzala Como Limites da Imaginação Política: subversão e indisciplina na operação historiográfica”
- Matheus Firmino Leite
Resumo: Dialogando com Lélia Gonzalez (1983), Saidiya Hartman (2008) e Anne McClintock (2003) este artigo apresenta uma leitura de “Casa-grande e senzala” fazendo uso do potencial indisciplinado dos saberes feministas para compreender como Gilberto Freyre (2013) expôs alguns fundamentos violentos da sociedade colonial-moderna brasileira que não têm sido adequadamente explorados pelo cânone historiográfico brasileiro. Primeiramente, oferece breves comentários sobre as principais categorias do pensamento feminista que podem ser úteis para este empreendimento. Em seguida, analisamos os momentos textuais que estabeleceram os limites para a interpretação da experiência histórica brasileira na matriz de inteligibilidade cultural determinada pelo pensamento historiográfico de Gilberto Freyre. Neste sentido, são feitas algumas considerações sobre autoridade discursiva e invisibilização de experiências subalternas. Por fim, realiza algumas especulações sobre como a crítica feminista pode contribuir para uma escrita da história subversiva e indisciplinada. O trabalho busca evidenciar as consequências de uma historiografia firmada sobre feridas históricas e disputar novas formas de imaginar e narrar a história buscando desestabilizar regimes de verdade coloniais/modernos.
”Antropologia Decolonial e Mulherismo Africana: as mulheres pretas na África e na diáspora.”
- Milena Oliveira da Silva
Resumo: Este artigo se refere a um breve panorama a partir de uma pesquisa bibliográfica sobre o Mulherismo Africana e o seu possível diálogo com a Antropologia Decolonial. Ele surgiu de uma inquietação subjetiva que me fez desenvolver um grande interesse em quer descobrir mais sobre a minha ancestralidade preta. No decorrer da minha graduação em Ciências Sociais, escolhi as teorias antropológicas como fundamento metodológico das minhas pesquisas, entretanto acabei me deparando com um dilema quando decidi unir meus interesses pessoais à pesquisa científica: Será mesmo que dentro de uma instituição de ensino eurocêntrica e partindo de uma disciplina que em seus primórdios legitimou e justificou por meio do racismo científico a inferioridade do povo de África e de suas diásporas, poderia agora no século XXI dialogar com uma perspectiva afrocêntrica e de afroperspectiva criada pelo e para o povo preto?. O intuito desse artigo é fazer uma reflexão sobre a possível brecha que encontrei na academia científica ao estudo do Mulherismo Africana e de sua epistemologia afrocentrada, visando apresentar aqui também a possibilidade teórica trazida pela diáspora afro-americana ao campo de estudos científicos chamado Estudos Africana, com o objetivo de quebrar o etnocentrismo metodológico cunhado pela academia.
‘‘Estudo sobre movimento lésbico-feminista paraguaio: possibilidades historiográficas e etnográficas”.
- Ludmila Muller
Resumo: Os trabalhos acadêmicos que apresentam discussões sobre história e memória das sexualidades dissidentes no Paraguai ainda se inserem em um campo incipiente, identificando, sobretudo, dados e trajetórias de homens gays e travestis durante a Ditadura de Alfredo Stroessner (1954 – 1989). A existência de mulheres lésbicas vem sendo totalmente invisibilizada, bem como suas lutas políticas e a repressões sofridas no período ditatorial. Curiosas de sua própria história, o primeiro coletivo lésbico-feminista do país, “Grupo por los derechos de las lesbianas – Aireana”, buscou em testemunhos seu lugar de pesquisa e registro. O artigo jornalístico “De toda la vida – Memorias de lesbianas en Paraguay” (2022), escrito em conjunto pelas integrantes da organização, apresentou trajetórias de mulheres que se relacionavam com outras mulheres entre as décadas de 1950 e 1990 no país. Este material exprime a intenção e o desejo desta coletividade para a construção e desenvolvimento de uma memória lésbica no Paraguai, além de demonstrar a grandiosa potencialidade e possibilidade de pesquisas historiográficas e etnográficas sobre o tema. A presente proposta busca dialogar sobre metodologias de pesquisa para pensar os movimentos feministas contemporâneos na América Latina, em especial a experiência da Aireana e de suas iniciativas de preservação de memória.
”Críticas anti-colonialistas à saúde: modos de produção do cuidado com as prostitutas”
- Gabriel Luis Pereira Nolasco; Carla Cristina de Souza; Anita Guazzelli Bernardes
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo refletir com algumas cenas em que nossos corpos de pesquisadoras(es), ativistas e operadoras(es) de políticas sociais se encontram com outros corpos de trabalhadoras sexuais. As cenas são produzidas no contexto de ações e serviços de prevenção combinada do hiv/aids, em Campo Grande-MS. As estratégias de promoção e prevenção à saúde, compreendidas como práticas de cuidado empreendidas pelas profissionais do sexo nos indicam outros itinerários de cuidado de si que ilustram uma crítica á lógica colonial-capitalisticas em que situam o dispositivo da aids. Os limites e urgências da políticas públicas em saúde, e às possibilidades do cuidado vão sendo necessárias e mesmo produzindo-se distintamente à depender do contexto em que ela ocorre, como na prostituição de ruas, bares, boates, casas de massagem. Isto posto, não há uma homogeneidade no trabalho sexual, bem como, quando acionada e em interseccção com os marcadores sociais de diferenças como raça/etnia, classe, geração entre outros, expõe contextos de maior vulnerabilidade e invisibilidades no campo social. Com isso, apostamos na importância da territorialização dos corpos – como efeito do lugar de corpo – e no exercício da escuta como tensionadores dos processos coloniais que não estão descolados do modo de fazer políticas sociais, em especial, as de saúde. Pensar com as perspectivas dos feminismos decoloniais, sobretudo neste contexto, transfeminismos e putafeminismos, nos conduziu a refletirmos sobre esses encontros desde outro lugar onde se exercita práticas e escutas anti-coloniais, de modo que pudemos tecer coletivamente críticas à institucionalização do estigma do trabalho sexual nos espaços do cuidado em saúde e sua compulsioriedade com as políticas de hiv.
”Corpo-Território: Entre (Re)aformações e Ressignificações”
- Ariele Dorneles dos Santos; Esmael Alves de Oliveira
Resumo: O presente trabalho tem o intuito de pensar as experiências e vivências de pessoas travestis e transexuais em Campo Grande a partir de dois cenários distintos: Mister Trans, Miss Trans ambos do ano de 2019. A partir de uma etnografia realizada nesses diferentes momentos, busco refletir de que modo são construídas, performadas e agenciadas a identidade trans na capital do estado. Num cruzamento de trajetórias, narrativas e performances, produzidas em lugares e temporalidades distintas, mas em contexto parecido, busco a partir de meu lugar de pesquisadora e travesti, evidenciar os trânsitos, as fronteiras, os pontos de fuga, que viabilizam uma compreensão plural da experiência corporal das pessoas trans. Essa pesquisa parte do viés pós-estruturalista, principalmente a partir da ótica dos estudos queer, analisar as performances ressignificadas e/ou reafirmadas de pressupostos socioculturais de gênero, sexualidade e beleza que atravessam as pessoas trans.
”Maternidade Universitária: Desafios, Resistências e Ações Institucionais na Perspectiva Feminista e Decolonial”
- Renata Figueiredo Silva
Resumo: O estudo investiga as experiências do maternar das mulheres no contexto universitário, com foco nas faculdades dentro da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD). A hipótese inicial visa as estruturas patriarcais dentro e fora da universidade e como afetam especialmente a persistência e o desenvolvimento acadêmico das mulheres com filhos. O objetivo é analisar a presença de ações afirmativas ou políticas da educação superior para mães e compreender as trajetórias acadêmicas de mulheres com crianças de 4 meses a 12 anos, considerando sua classe, raça, deficiência, sexualidade e etariedade assim como a forma que enfrentam as dificuldades, resistências e demonstrando resiliência ao longo de seus cursos. No arcabouço teórico empírico, discutimos as formas como essas mulheres conciliam maternidade e acadêmia, revelando as conexões entre as lógicas do capitalismo, patriarcado e dominação colonial, que sobrecarregam desigualmente as mulheres com a responsabilidade do cuidado infantil, examinamos como essas estruturas afetam a persistência e o desenvolvimento acadêmico dessas mulheres, por isso são empregados métodos quantitativos e qualitativos, incluindo entrevistas, grupos focais e análise de documentação. Os resultados preliminares destacam a necessidade urgente de discutir a maternidade como um fator de evasão universitária e a importância de ações institucionais para abordar essa questão, além disso, o estudo trabalha a interseccionalidade na experiência da maternidade, principalmente para as mulheres negras e indígenas no ambiente universitário, sendo analisados também as estratégias e políticas adotadas pela UFGD para apoiar a permanência dessas mulheres e como enfrentam o cotidiano para conciliar maternidade, vida acadêmica e vida social.