Perspectivas Etnográficas Sobre o Trabalho e Seus Sentidos
As condições econômicas e sociais dos trabalhadores têm sofrido com as
transformações do capitalismo, não só na organização da produção e do trabalho, mas
também nas vivências quotidianas, que nos possibilitam refletir sobre esse fenômeno
como construções sociais que se desenrolam muitas vezes em contextos de contradições
e conflitos. Buscando compreender o trabalho não só como sujeito das transformações,
mas também como ator social de mudanças, esse grupo de trabalho se apresenta como um
importante espaço de discussão, dialogando com os conhecimentos antropológicos e com
a etnografia, a partir de uma perspectiva do centro-oeste. Assim, acolheremos pesquisas
de diferentes áreas do conhecimento, com trabalhos concluídos ou em andamento, dando
lugar a discussões que analisem os novos sentidos do trabalho; novos discursos das
lógicas empreendedoras; trabalhos etnográficos; experiências dos trabalhadores; formas
de organização; relações de trabalho; trabalhos em plataformas; trabalho em contexto
pandêmico e pós-pandemia, entre outros temas que permeiam o mundo do trabalho, de
forma a impactar as subjetividades dos novos trabalhadores e problematizados dentro de
diferentes marcadores sociais. Enfim, essas e outras possibilidades devem orientar nossas
discussões enquanto uma forma de transformar nossos dilemas de pesquisa em objetos de
reflexão.
”A Assistência Social aos Migrantes em Campo Grande (MS): agentes, práticas e representações a partir da Antropologia de Estado.”
- Alessandra Rossi Caceres Mendonça
Resumo: O tema proposto surge do trabalho realizado na Secretaria Municipal de Assistência Social – SAS, local de vivencias com migrantes que chegam para atendimento e recebem os serviços destinados a população. Contudo existem apontamentos observados, como aumento da demanda a ser atendida, diferença cultural, questões econômicas entre outras, todas ocorridas entre o período de 2019 a 2022 sendo o antes, durante e pós pandêmico. Entendo, que para ter essa compreensão vou precisar, delimitar o tema, estudando apenas, como é realizado o trabalho com os migrantes? De que forma eles vêm para o Município de Campo Grande? Se eles permanecem ou não? Existe um preparo dos agentes estatais para receber essas pessoas? Como esses agentes conseguem trabalhar nesse atendimento, de que maneira funciona esses serviços. Para essa resposta, busco descrever quem é o agente estatal que atende esse público, como ele se forma, e se existe parâmetros de atuação para esse trabalho, realizando a etnografia de campo e de arquivo dos registros, aprofundando assim, o conhecimento quanto ao funcionamento do estado, seu trabalho frente a essa nova realidade de trabalho. No final espero ter a compreensão desse estado e seus agentes, espero poder pensar e refletir sobre isso, através de uma observação participante. E em certa medida levar esses questionamentos, sendo ou não sanados para conhecimento desses agentes.
”Do Invisível ao Visível: O Mundo do Trabalho da Mulher Pantaneira”
- Beatriz Silva Bogarim ; Mara Aline Ribeiro
Resumo: A antropologia visual em encontro com a antropologia do trabalho, permite dar visibilidade por meio da imagem como arte e cunho político. A fotografia torna visível trabalhos que por vezes são esquecidos, como é o caso das mulheres que limpam e organizam as casas, fazendas e hotéis no Pantanal. O mercado de trabalho constitui uma grande luta e impasse pela visão sistematizada, neste caso, a do homem pantaneiro, aquele que está à frente da mulher em casa, no trabalho e no lazer. O ponto central traz à tona a trajetória de vida de mulheres, entendendo o ser mulher para além da divisão social do trabalho. O olhar antropológico na e com imagens tem como questão: o que auxilia essas mulheres a escolherem seu meio de renda? Tem relação direta com a raça, gênero e idade? Qual a relação da mulher no mercado de trabalho para manutenção do produto pantaneiro? Dessa forma, pensar na fotografia por meio do trabalho realizado por mulheres, compõem uma série de dispositivos capazes de compreender a racionalização do trabalho e suas relações intermitentes de controle de produção e consumo. Para tanto, a proposta tem como objetivo apresentar o protagonismo das mulheres no mercado de trabalho do Pantanal sul mato-grossense, através das narrativas visuais como método, técnica e difusão de informação, a partir do referencial teórico da antropologia.
”A Construção Social do Turismo em Bonito-MS”
- Marcelo Gil da Silva
Resumo: O turismo em Bonito, Mato Grosso do Sul, também pode ser analisado como um fenômeno social que tem transformado significativamente a região nas últimas décadas. A abordagem antropológica e a metodologia etnográfica são ferramentas fundamentais para a compreensão desse fenômeno complexo. Através da antropologia, é possível analisar as práticas culturais, as relações de poder e as representações simbólicas que permeiam o turismo em Bonito. Ao adotar uma perspectiva antropológica, busca-se compreender o turismo não apenas como um setor econômico, mas como uma construção social que envolve interações entre turistas, a comunidade local e demais atores envolvidos. Essas interações complexas geram significados e impactos sociais que vão além das questões puramente econômicas. Destaca-se a importância de entender as transformações socioeconômicas, as políticas governamentais e as demandas dos turistas que afetaram a construção social do turismo em Bonito ao longo dos anos. A análise antropológica permite observar as mudanças nas práticas culturais, nas relações de poder e nas representações simbólicas decorrentes dessas influências. Essa abordagem revela as transformações sociais decorrentes do turismo e a influência das interações entre turistas, comunidade local e outros atores envolvidos na construção da experiência turística.
”Apresentação do projeto de mestrado “Do mate à maçã: a exploração do trabalho escravo dos kaiowa e guarani”
- Carolina Falcão Motoki; Rosa Sebastiana Colman
Resumo: Olhar para o trabalho escravo contemporâneo possibilita compreender como o Brasil se constitui a partir da usurpação de territórios e da exploração de sua gente. No Mato Grosso do Sul, situamos um caso exemplar: a desterritorialização dos kaiowa e guarani foi executada com a exploração de seu próprio trabalho. A partir do século XX, o agronegócio os escravizou em diversas atividades, com características comuns: endividamento, trabalho por produção, doenças ocupacionais, exaustão e mortes precoces. Apesar disso, mantêm-se etnicamente vivos, contrariando os resultados esperados pela política de assimilação empreendida pelo Estado brasileiro. Se a questão não pode ser tratada na chave de uma oposição entre uma cultura “moderna” que se impõe sobre uma “tradicional, não se pode negar o impacto nas comunidades e nas relações. A presente pesquisa de mestrado (PPGANT/UFGD) tem por objetivo realizar uma etnografia dessa exploração, com ênfase nas condições de trabalho escravo, e pretende responder à seguinte questão: De que maneira a inserção no mercado de trabalho, ainda mais em situações de extrema exploração, dos kaiowa e guarani se relaciona com ou impacta a organização social desses povos? Apresentam-se como objetivos do projeto: analisar a relação entre as múltiplas violências vivenciadas pelos kaiowa e guarani e a exploração do trabalho, assim como as negociações implicadas, com base na sua penetração no cotidiano; compreender, buscando um ponto de vista nativo, o sentido do trabalho fora (a changa), as diferentes concepções de trabalho dentro das tekoha, a liderança do cabeçante, as alianças de patronato (che patron), dentre outros.
”Uma Etnografia Sobre o Uso de Mídias Digitais no Contexto Escolar”
- Léia Rodrigues da Silva Queiroz; Carlos Eduardo Henning
Resumo: O uso das tecnologias no ambiente educacional é uma temática que tem despertado o interesse de vários pesquisadores, a educação tem passado por transformações ao longo tempo, principalmente com a pandemia de COVID19. Esse acontecimento exigiu dos professores métodos de ensino que integram o uso das tecnologias em suas práticas cotidianas. Esta pesquisa é parte integrante da conclusão de mestrado em Antropologia Social, na Faculdade de Ciências Sociais do PPGAS/UFG, orientada pelo professor doutor Carlos Eduardo Henning, pertencendo o seu projeto guarda-chuva “Por uma Antropologia do Curso da Vida e das Gerações”. Objetiva analisar antropologicamente as narrativas de professores/as a respeito dos impactos dos usos de Tecnologias da Informação e Comunicação e das mídias digitais no contexto escolar em uma escola da rede municipal de ensino nas modalidades de Educação Infantil e Ensino Fundamental I em Porangatu-GO. A metodologia utilizada será revisão bibliográfica, observação participante, entrevistas semiestruturadas, confecção de cadernos de campo, pesquisa qualitativa, questionários direcionados a professores. Entre os principais referenciais teóricos estão: Malinowski (1978), e seu método da etnografia, descrição densa por Clifford Geertz (2008), Guita Debert (1999), reflexões Intergeracionais, Pierry Levy (1998), análises sobre ciberespaço, Carolina Parreiras (2011), investigações sobre dispositivos tecnológicos e do digital. Adriana Friedman que defende que atores sociais recriam a sociedade. A educação brasileira é um cenário produtivo de pesquisas antropológicas, segundo Juliane Bazzo (2020), afirmando que a educação vem pluralizando seus temas de pesquisa nos últimos anos, se dedicado, em imersões no cotidiano das instituições de ensino, fitando etnograficamente o fazer educacional.
”Precarização estrutural docente no ensino integral”
- Maria do Carmo Carneiro Rossatti
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar, perante as perspectivas dos professores contratados, sua permanência integral na estrutura escolar. De acordo com as metas propostas pelo Plano Nacional de Educação (PNE), pretende-se implementar o ensino integral em no mínimo 50% das escolas públicas, mais adiante mostra-se o plano de aumentar o investimento público em educação em no mínimo de 7% do produto interno bruto (PIB). O PNE é um sistema pensado para avanço educacional brasileiro, tendo como principal objetivo o aumento da oferta, permanência e qualidade. No ano de 2019 foi aprovado no Mato Grosso do Sul a lei complementar Nº 226, de 11 de julho de 2019 que desequipara o salário do servidor concursado e contratado. Nesse sentido, o artigo analisará as condições dos trabalhadores docentes da rede pública do estado, mais especificamente na E.E. Profª Élia França Cardoso, no bairro Jardim São Conrado, partindo do pressuposto que existe uma precariedade nas condições tanto estruturais dos recintos escolares, quanto do salário não equiparado dos docentes. Para tanto, o trabalho será realizado mediante a observação do familiar (VELHO,1977). Colocando em prática a capacidade científica de observar o que está próximo de maneira distante, levantando novos questionamentos e estranhamentos, mesmo fazendo parte do meio.
”As práticas de regulação do Estado e a circulação de comerciantes e trabalhadores na fronteira Paraguai-Brasil”
- Pâmella Rani Epifânio Soares
Resumo: A proposta deste trabalho é apresentar as práticas de regulação do Estado na fronteira entre Paraguai e Brasil, a partir do comércio popular na linha de divisa entre as cidades-gêmeas de Pedro Juan Caballero (PY) e Ponta Porã (BR). A fronteira, como espaço vivido, é o local onde circulam diferentes agentes sociais e políticos, regionais, nacionais e internacionais, é concebida e produzida pelas instituições públicas e os agentes públicos que ali atuam; pela população das sociedades nacionais e dos imigrantes estrangeiros; pelos turistas; pela mídia; pelo comércio e seus trabalhadores; entre outros. A vida no comércio da fronteira tem diferentes possibilidades que indicam o movimento de um lado e outro da linha, estabelecendo um emaranhado de experiências que podem envolver diferentes improvisações nas circulações dos trabalhadores populares, camelôs e casilleros ao longo de seus trajetos de vendas. O movimento de pessoas que cruzam a linha de fronteira demonstra que os caminhos da vida são continuamente elaborados, como afirma Tim Ingold (2005), no tempo, de trilhas de ação e percepção. Com base em entrevistas com comerciantes e trabalhadores das cidades-gêmeas, propõe-se exercitar uma reflexão sobre como as pessoas podem subverter a ideia de um ordenamento único e universal do Estado.
”O mundo do trabalho de manicures em Campo Grande/MS”
- Brenda Agnes Domingues Vegini; Mara Aline Ribeiro
Resumo: Ao discutir temas relacionados à estética e à saúda corporal, as manicures despontam como uma das profissionais mais requisitadas no mundo do trabalho. Consequentemente, é determinante expor as condições do trabalho de quem atua em salões de beleza ou por conta própria e as práticas cotidianas essenciais para a compreensão do que constitui a profissão de manicure, o papel social e as singularidades que vão além do ato de fazer as unhas. A despeito disso, esta é uma pesquisa em andamento, portanto, ainda sem respostas conclusivas. Diante do exposto, o objetivo desse estudo é analisar o trabalho de manicures em Campo Grande/MS a partir das relações sociais que perpassam a vida pessoal e o trabalho de mulheres que sobrevivem exercendo o cuidado e o embelezamento de unhas. Por meio de análise qualitativa, pesquisas bibliográficas, levantamento em dados governamentais, na legislação brasileira e entrevistas semiestruturadas com as profissionais da área, o estudo aproxima teoricamente dos conceitos sociológicos, políticos e antropológicos das particularidades expostas pelas interlocutoras, demonstrando como o ofício é exercido, suas funcionalidades e características dentro de um processo de compra e venda de prestação de serviços que, em um universo capitalista, se transforma e reinventa a todo instante.
”UM OLHAR ANTROPOLÓGICO SOB O TRABALHO: PRECARIZAÇÃO E Covid-19”
- Vitor Diego Gonçalves Forti
Resumo:O trabalho produzido tem por objetivo incitar uma análise ao mundo do trabalho dentro de um panorama pandêmico, para sua construção foram feitas duas entrevistas na intenção de obter duas perspectivas de como a pandemia da Covid-19 afetou dois setores diferentes do trabalho, sendo um o trabalho já realizado de forma home office e outro no qual mesmo com a pandemia da Covid-19 não foi dada a opção de se estabelecer tal formato de trabalho. Durante o desenvolvimento da pesquisa serão abordadas críticas ao sistema capitalista que transformou o trabalho e o estruturou no modo como conhecemos hoje, é portanto um meio de observarmos atentamente algo presente no desenvolver de uma sociedade mas que passa despercebido ao senso comum a forma como se transformou ao longo dos anos. Levantar a pauta da precarização do trabalho em tempos atuais é também um convite a refletir o quanto vivemos ou contribuímos para tal prática. De relevância imensurável o debate sobre o trabalho contemporâneo se faz presente visto que sua transformação ainda é constante e cada vez mais próxima de nossas realidades.