Desafios antropológicos do pensar mediante as coisas

Postado por: Maiara Ricalde Machado Avanci

Desde o princípio a antropologia tem refletido sobre como as relações sociais são
mediadas por objetos. Porém, nas últimas décadas, essas coisas – copiadas, roubadas, compradas,
zelosamente elaboradas, recebidas como presentes, convertidas em patrimônio cultural, sacralizadas
e/ou demonizadas em celebrações religiosas, entre outras práticas culturais -, têm recebido atenção
renovada da disciplina, pois têm sido consideradas de modo mais inclusivo, em relação aos saberes
não ocidentais, em que a definição delas como meros “objetos”, geralmente contrapostos à noção de
sujeito e tudo o que ela abarca, não dão conta de compreendê-las. Neste GT pretende-se dar atenção
às teorias antropológicas que reflitam sobre o tema das coisas, nos mais diversos saberes e fazeres,
que implicam na interação entre humanos e não-humanos e envolvem habilidades, escolhas,
hierarquias, simbologias, festividades e religiosidades.

Pinturas e grafismos masculinos e femininos entre os Ejiwajegi”

Benilda Vergílio

Resumo: O presente pré-projeto de pesquisa tem como objetivo entender quais são as pinturas e os grafismos pertencentes às mulheres e aos homens, no conjunto de desenhos tradicionalmente produzidos pelos Ejiwajegi, especialmente entre a população indígena da aldeia Alves de Barros (Porto Murtinho-MS). A partir desta proposta investigativa, pretendo compreender os tipos de materiais utilizados pelas pessoas, mulheres e homens, na realização destes desenhos, por exemplo, se existem cores e utensílios específicos de determinado gênero na comunidade. Como indígena deste povo, meu interesse está em esclarecer possíveis confusões no uso destes padrões e materiais, entre as mulheres e os homens, recorrentes na atualidade. Com este projeto espero contribuir para a continuidade deste saber em meu povo, seu fortalecimento nas aldeias e também produzir materiais didáticos que informem sobre essa temática às futuras gerações.

O Novo Antropólogo: Uma Síntese Sobre o Método Etnográfico”

Ubiratan Borges Daniel; Priscila Lini

Resumo: Este artigo tem como objetivo, apresentar uma síntese do processo histórico evolutivo da construção da Ciência Antropológica, e do método que lhe conferiu autoridade científica o Método Etnográfico. Para isso iremos evidenciar, um breve panorama dos primórdios da Antropologia, seus principais atores e os impulsos que geraram as transformações para o desenvolvimento e o surgimento das primeiras Escolas Antropológicas. Seus principais expoentes como Edward Burnett Tylor, Franz Uri Boas e Bronisław Kasper Malinowski as principais obras e os seus impactos na Antropologia. Complementamos este Trabalho Científico, evidenciando a postura das Escolas Antropológicas mais recentes, que vem entregar, um novo modo de interpretação da sociedade, da Ciência Antropológica, de suas bases clássicas e a sua principal Metodologia

Lésse Orixá: reflexões antropológicas nas (mútuas) relações entre o ser humano e ser não-humano presentes no candomblé”

Gabriel Pereira Garcia

Resumo: Na cultura afrodiaspórica presente na cosmogonia iorubana e perpetrada no candomblé, o conceito de axé como força imanente, ou seja, presente em tudo e de tudo condutor, coloca-nos a refletir sobre como seres tidos como não vivos, ao menos organicamente, passam a possuir identidade e influência no mundo material. Assim, propomos nesse trabalho analisar como, no candomblé, objetos e coisas passam a se tornar seres que integram a vida dos praticantes dessa religiosidade. Ao identificar o axé e, também os orixás que são emanados/materializados nesses “seres-coisas”, assim como também são nos humanos, cria-se um elo de mútua relação (e por que não origem?) entre o humano e não-humano. Como por exemplo, a quartinha com água no assentamento do orixá representa o próprio sujeito diante da sua divindade e que cria um dever de conduta. Portanto, com o diálogo entre a bibliografia antropológica e a análise da observação participante, poderemos entender como essa relação humano e “ser-coisa” integram-se e reverberam na própria constituição e concepção do(s) sujeito(s) que permeiam esse universo e que, ao ultrapassar o caráter simbólico, revela sua força ontológica.

”Religiosidades: Corpo, pessoa e papéis sociais entre os Terena da aldeia Buriti/MS”

Graziele Acçolini; Rafael Allen Gonçalves Barboza

Resumo: Este artigo pretende abordar aspectos que percorrem discussões sobre corpos, pessoas e papéis sociais entre os Terena, especialmente a comunidade da aldeia Buriti (T.I. Buriti, Dois Irmãos do Buriti/MS). Esse assunto emergiu a partir de uma pesquisa em cujo foco principal se centrava a Festa de São Sebastião, padroeiro de tal aldeia, a qual considera essa festa como uma ‘tradição’ que se iniciou por conta de uma promessa realizada na década de 1920, há quase cem anos, em meio a uma epidemia de febre amarela que assolou a região ocupada por essa sociedade indígena. O mote, para esse texto, é compreender a festa como um “drama social” nos termos de Victor W. Turner (2013), já que se trata de uma promessa que eclodiu em um momento de grande fragilidade para os Terena daquela região. Logo, a temática – corpo, pessoa e papéis sociais – aflorou e se tornou o centro desse artigo através da Festa de São Sebastião e do convívio intenso com os Terena da aldeia Buriti. Frente ao tema e à observação de aspectos socioculturais dessa sociedade, surgiu a intenção de dissertar sobre como os Terena de Buriti concebem as questões, as quais enfatizam o papel das mulheres, envolvendo religiosidades, cosmologia e organização social.   

”O Disco Voador do Morenão: Ufologia, Identidade e Cultura em Mato Grosso do Sul”

 Leonardo Cristian Martins; Guilherme Rodrigues Passamani

Resumo: No ano de 1982, durante uma partida de futebol entre Operário-MS e Vasco da Gama-RJ pela “Taça Ouro”, um objeto voador não identificado (OVNI) sobrevoou os céus de Campo Grande e foi visto por milhares de torcedores no estádio Pedro Pedrossian, o Morenão. Tal evento é tratado pelos ufólogos brasileiros como um dos maiores avistamentos coletivos de disco voador do mundo. Sendo assim, este trabalho tem como objetivo compreender como se deu o “Caso Morenão” e quais desdobramentos desse evento para a cidade de Campo Grande e a ufologia. Para tal, pretende-se analisar o aparecimento do disco voador no estádio Morenão tendo como referência as características dos avistamentos de óvnis aceitos pela comunidade ufológica, além de discutir as bases da ufologia brasileira e sua divisão nos eixos científico e místico. Durante a realização do trabalho de campo, foram estabelecidas interlocuções com nove pessoas, sendo dois ufólogos de Alto Paraíso de Goiás, que contribuíram para o entendimento de como se estrutura a ufologia nacional, e sete moradores de Campo Grande, que presenciaram o evento de dentro e fora do estádio. Posteriormente, as interações com os colaboradores foram transcritas e analisadas utilizando os instrumentos metodológicos da Antropologia Social e áreas próximas em um diálogo profícuo. Deste modo, constatou-se que o evento ocorrido no Morenão possui aspectos que o qualificam perante a ufologia na categoria de avistamento coletivo de disco voador e que o acontecimento pode ter algum grau de influência no imaginário campo-grandense. Como se trata de uma pesquisa em andamento, esses resultados ainda são preliminares e carecem da análise final.

Fora dos trilhos e depois que o trem passa: o tempo e espaço interconectáveis da arquitetura efêmera da Esplanada Ferroviária de Campo Grande – MS”

Larissa Emilia Monte Morandi

Resumo: O conceito “arquitetura efêmera” se cria no contexto da cidade como peça relevante na formação de identidade e memória coletiva de grupos urbanos, defendendo a ideia de que é possível construções de caráter temporário gerarem impacto social. Através de símbolos transitórios, utiliza-se de metodologia etnográfica na Esplanada Ferroviária de Campo Grande/MS – em meio ao significado de sua história de apogeu e declínio – como lugar cultural praticado. A supermodernidade e necessidade da aceleração urbana fazem com que as pessoas se adaptem a viver tão somente para atender demandas de trabalho e outras ocupações de imediatismos da vida moderna. O objetivo é justificar que na vida urbana andam não apenas homens e suas construções, mas também – e principalmente – sentimentos, lembranças, trocas e individualidades vividas, – até mesmo nas estruturas montadas/desmontadas no seio da cidade – que abrigam multidões diariamente -, mas não são alvo de permanência. Justifica-se de referenciais teóricos sobre cidades, não-lugares, memória da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, patrimônio e outros estudos envolvendo a antropologia urbana. A pesquisa prevê resultado na contribuição dos lugares antropológicos de que, ainda breves e passageiras, a arquitetura efêmera possibilita a construção da sociedade através de desejos; solidão; arte; expressão; movimento; e outras coisas interligadas aos espaços que sobreviverão na memória do indivíduo.

”Recordar é preciso: escrevivência e etnografia na festividade de Iemanjá na cidade de Corumbá-MS”

Thaylla G. P. Silva; Álvaro Banducci Jr

Resumo: Esse trabalho faz parte da pesquisa de mestrado e tem como objetivo analisar as louvações para Iemanjá como um fenômeno religioso na cidade de Corumbá – MS sob a ótica da “escrevivência” conceito criado pela linguista e escritora afro-brasileira Conceição Evaristo para compreender as trajetórias históricas dos grupos e populações afro-brasileiras, unindo a escrita e a vivência. Portanto, pretende-se vincular metodologicamente a experiência etnográfica, escrevivência e religião, para abrangermos a importância e os significados das festividades para Iemanjá que ocorrem na cidade de Corumbá – MS durante o final do mês de dezembro. Por meio de conversas e do convívio com afro-religiosos da região que tinha por intuito obter informações sobre a festividade, foi necessário perpassar por vivências particularizadas de cada indivíduo para somente assim acessar memórias coletivas acerca das louvações para Iemanjá, compreendendo que através do diálogo o “objeto de pesquisa” em diversos momentos é colocado em segundo plano quando os interlocutores carregam e propagam suas angústias, necessidades, conflitos e alegrias através das memórias e recordações em suas narrativas. Portanto, a etnografia e a escrevivência por meio da interdisciplinaridade colaboram para compreensão das manifestações religiosas estabelecendo relações e afetos que atravessam e ultrapassam a matéria humana. 

”Perda, Luto e Processos de Significação: As Despedidas de Poliana”

Liliana Simionatto; Priscila Lini

Resumo: O fenômeno morte, embora muito recorrente, tem sido silenciado na medida em que os centros urbanos e a industrialização se desenvolveram. O presente artigo através da etnobiografia e pesquisas bibliográficas apresenta as narrativas de Poliana sobre suas experiências com o fenômeno morte. Buscando compreender esse fenômeno, seus ritos e suas significações, nos valemos dos referenciais teóricos de Ariés, Bayard, Souza, Pinho, Kovács e Campos. O modo de tratar a morte com a urbanização e a industrialização sofreu grandes modificações, o que era natural se tornou interdito. Só a partir dos estudos da tanatologia foi possível a obtenção de respostas concretas sobre o fenômeno morte. Além disso, há uma grande necessidade de realizarmos a educação para a morte com o intuito de tratá-la de forma familiar (natural) e não exótica (selvagem). 

 

 

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