Antropologia, gênero e sexualidade: experimentações etnográficas a partir do/no Centro-oeste do Brasil

Postado por: Maiara Ricalde Machado Avanci

A presente proposta de grupo de trabalho atenta às questões de gênero, sexualidade e
outros marcadores sociais da diferença. Interessa a esse GT as intersecções que envolvam essas
categorias de articulação em contextos que não sejam aqueles imediatamente associados a
grandes centros urbanos e metrópoles. Nesse sentido, as chamadas cidades pequenas e médias,
os contextos interioranos e rurais são aqueles sobre os quais se quer potencializar a reflexões e
as estratégias de viabilidade das dissidências sexuais e de gênero. Se busca pensar sobre o
“Brasil de dentro”, “profundo”, com suas questões e particularidades. Para tanto, gostaríamos
de dar especial atenção à região centro-oeste do Brasil. Alguns temas seriam de particular
interesse a esse grupo de trabalho: as múltiplas experiências de masculinidades e feminilidades,
trabalho sexual e suas dinâmicas, violências sexuais e de gênero, trocas afetivas e sexuais,
experimentações variadas no campo do desejo e do erotismo, bem como das diferentes formas
de ativismo LGBTQIA+. Sendo assim, esse GT pretende reunir pesquisadores (as) que possam
problematizar intersecções que contribuam com os debates teóricos, práticos e metodológicos
do fazer antropológico a partir do/e no centro-oeste do Brasil. Por fim, percebe-se a potência
desse contexto de oportunidade para visibilizar tais análises desde o centro-oeste, constituindose como um terreno rico a temas emergentes para uma Antropologia que esteja em sintonia
com o seu tempo.

”A construção do “sonho policial”: discussões sobre a produção de masculinidades e desejo no currículo dos Canais de PM”

  • Alistair Burema

Resumo: Nos canais de PM, isso é, canais de autoria de policiais militares na plataforma YouTube, é vivenciado o policiamento extensivo pelas lentes dos policiais militares. Entre perseguições e ocorrências, é possível observar a formação e fortalecimento de desejos punitivistas, que culminam no sonho de tornar-se policial militar. Assim, esses canais são analisados, em uma leitura a partir dos estudos pós-críticos em Educação, como artefatos culturais, portadores de uma pedagogia, apoiada por um currículo cultural. A pesquisa, então, se trata de uma tentativa de compreender o que há de currículo-pedagógico nos canais de PM situados no estado de Mato Grosso do Sul, descrevendo sua ação como formadora de sujeitos. Para tal, foi realizada uma pesquisa qualitativa, com o emprego da etnografia on-line realizada na plataforma digital YouTube. Foram selecionados, em um processo de perambulação, 6 canais e, deles, 30 vídeos. Esta análise considera que através das práticas consequentes das configurações de certa dominação masculina surgem as masculinidades hegemônicas. Elas necessitam ser constantemente demonstradas e reforçadas, manifestando-se a partir da negação de certas qualidades, percebidas na observação da interação/comentários nos canais e do próprio conteúdo dos vídeos. Neste sentido, ser homem policial militar torna-se não ser bandido dentro de uma dicotomia policial-criminosa fabricada. No mesmo sentido, há, também, o desejo que se manifesta no “sonho policial”, aquele relativo à integração, logo, pertencimento a esse universo.

”Pornografia, performance sexual e seus impactos: uma discussão antropológica sobre mulheres cisgênero”

  • Maiara Ricalde Machado Avanci; Josafá Barros Camargo Borges; Francesco Romizi

Resumo:O presente trabalho visa compreender, através de um enfoque antropológico, como o uso da pornografia reverbera em mulheres cisgênero. Através de seus relatos de experiências sexuais a partir deste uso, buscar-se-á identificar os impactos do hábito de assistir pornografia naquilo que toca à satisfação sexual, relacionamento, clímax, orgasmo, estereótipos de gênero e prazeres destas mulheres. O mercado pornográfico, em conformidade com as diferentes facetas do desejo sexual humano – como, por exemplo, o voyeurismo, sadismo e outras conjecturas do tipo – possui um número cada vez maior de adeptas(os) espectadoras(es). Este trabalho, portanto, busca entender como o uso destes materiais pornográficos alteram as formas de relacionamento, a performance sexual, a autoestima e a visão de si destas mulheres. Pretendemos, ademais, utilizar de outras categorias analíticas passíveis de articulação para entender a relação destas mulheres com o conteúdo pornográfico como, por exemplo, corporeidade, raça, geração e classe.

”O Cuidado a Partir de Homens que Trabalham com Sexo: Reflexões Antropológicas Existencialistas”

  • Josafá Barros Camargo Borges

Resumo: O trabalho sexual exercido por homens no Brasil, em termos teórico-acadêmicos, teve seu primeiro esboço de visibilidade através da dissertação de mestrado de Nestor Perlongher em 1986, intitulada O negócio do michê: a prostituição viril em São Paulo. Este trabalho representa um marco das possibilidades de investigações acerca do fazer michê no Brasil e suas devidas contribuições para a área de estudos em gênero e sexualidade dentro da Antropologia Social. Há, contudo, um déficit de produções neste sentido em nível nacional. Poucos são os trabalhos acadêmicos acerca do mercado do sexo realizado por homens no Brasil e suas variadas possibilidades. Mais restritos ainda são trabalhos nacionais que concirnam a esfera da saúde na vida de homens que comercializam o sexo, levando em conta gerenciamento de riscos, vulnerabilidades e suas dinâmicas/negociações em ofício. Tendo em vista essa carência de produções e contribuições científicas que o presente trabalho traz um enfoque sobre o trabalho sexual realizado por homens na discussão acerca do cuidado numa concepção antropológica existencial. Uma das premissas desta nova forma do fazer antropológico é lançar luz e entendimento acerca da pessoa na sua individualidade, entendendo a vida como um complexo devir, em caráter descontínuo. Sua principal diferença com a antropologia mais usual é encontrada na fuga de categorias totalizadoras do social, apagando devires e instantes de ser das pessoas interlocutoras. A intenção é poder estender tais produções para os homens que operam com o sexo tarifado na cidade de Campo Grande – MS e propor uma nova antropologia do indivíduo.

Pavilhão LGBTQIA+ e Feira Central: Usos transviados da cidade durante o Festival Campão Cultural”

  • Daniella Chagas Mesquita

Resumo: O 2º Festival de arte, cultura, diversidade e cidadania – Campão Cultural, mais conhecido como Festival Campão Cultural, foi uma realização da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, por meio da Secretaria de Estado de Cidadania e Cultura e do Estado de Mato Grosso do Sul. Na extensa programação do Festival, que ocorreu em outubro de 2022, houveram dez atividades explicitamente relacionadas à temática LGBTQIA+, sendo metade destas atividades realizadas no espaço do Armazém Cultural, monumento histórico da cidade de Campo Grande – MS. Neste trabalho, descrevo e analiso modos com que pessoas LGBTQIA+ transitaram pela cidade durante o festival, em especial pela contraposição entre um pavilhão do Armazém Cultural, que foi ocupado por três dias seguidos pela equipe Corrida das Drag; e a Feira Central de Campo Grande, localizada na mesma rua. Para a análise, trago fotografias, descrição das performances artísticas e dos usos do espaço físico, bem como discursos realizados no Armazém Cultural e na Feira Central.

”Uma Análise Texto-Discursiva Sobre a Não-Binariedade e a Linguagem Neutra/Inclusiva de Gênero: Nos Debates Presentes nos Jornais de Circulação Nacional ”Folha de São Paulo” e ”O Globo”

  • Vinícius Marques Fagundes Queiroz; Miguel Rodrigues de Sousa Neto

Resumo: O presente trabalho visa mapear aspectos culturais, sociais e científicos das experiências de gênero da população Não-Binária, indivíduos que não se identificam exclusivamente dentro das categorias fixas de gênero (homem e mulher), e sobre o uso da chamada Linguagem Neutra/ Linguagem Inclusiva de gênero’ na história do Brasil contemporâneo. O trabalho foi fundamentado por meio de busca avançada em dois sites jornalísticos de alta circulação, “Folha de São Paulo” e “O Globo”, utilizando-se de dois termos-chave: “Gênero não binário” e “Linguagem Neutra/ Inclusiva de gênero”. O material reunido passou por análise quanti-qualitativa (CRESWELL, 2010), a luz da bibliografia disponível sobre as Pessoas Não-Binárias e os Estudos Gays, Lésbicos e Transgêneros, assim como os Estudos de Gênero. As experiências dissidentes das normas cisheteronormativas têm sido amplamente sufocadas e invisibilizadas, aumentando os números relativos à violência de gênero no Brasil. Há que se considerar que as pautas trazidas pelo movimento LGBTQIAPN+ e as demais pessoas englobadas no movimento pela pluralidade das orientações sexuais e variações de gênero, tem permanecido em um paradoxo de visibilidade/midiatização. Através do levantamento foi construído compreensões destas identidades dissidentes, ou (não)identidades, rompendo com a cultura hegemônica heteronormativas e mantenedora do binarismo de gênero, possibilitando outras identidades, da fluidez e até da contradição.

 

 

 

 

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