Povos e Comunidades Tradicionais: Estratégias de Resistências, Mobilidades e Identidades.

Postado por: Maiara Ricalde Machado Avanci

O GT objetiva a discussão e socialização de pesquisas e experiências antropológicas e de áreas
afins que priorizem debates relacionados às temáticas dos povos e comunidades tradicionais, as
questões como: território, identidade, práticas culturais e mobilidade entre aldeias, entre
fronteiras, ou mesmo para centros urbanos. Tais realidades, muitas vezes produzidas por
deslocamentos forçados motivados pelo agronegócio, ou histórias de expulsão de seus
territórios tradicionais e as tentativas de retorno na atualidade, levando esta população a intensa
movimentação perante a um Estado que não lhes garante seus direitos, levando-os a ocuparem
novos espaços políticos, como universidades e agências do próprio governo. Com bases nas estratégias variadas para ocupação
e usos de territórios ancestrais, o fenômeno das “retomadas” indígenas e quilombolas, possui
múltiplas implicações e significações, apontando para a movimentação política de recuperação
de terras expropriadas, mas também expressa mudanças de postura frente ao Estado e a
sociedade nacional, envolvendo processos intrinsecamente conectados com o
reposicionamento do próprio coletivo em relação às suas formas de expressão e práticas
culturais. O GT pretende reunir pesquisadores do campo da etnologia indígena e/ou
comunidades quilombolas que tragam contribuição para esse debate.

‘Relações espirituais com o território – Uma análise antropológica sobre a importância dos rituais e das Nãndesy dentro do Oguatá Porã em MS”

  • Thaisa Coelho Fernandes

Resumo: O presente trabalho está inserido no projeto de pesquisa “ÑANDESY e o OGUATÁ PORÃ – estudo
Antropológico das mulheres Kaiowá e Guarani no contexto da mobilidade e fronteira”, e analisa
as dinâmicas sociais que são próprias da região da fronteiriça Brasil/Paraguai, levando em
consideração o fenômeno do Oguatá que é parte da identidade cultural dos povos Kaiowá e
Guarani em especial, asrelações espirituais com o território. Trata-se de uma investigação acerca
da importância dos rituais e das Ñandesy dentro do Oguatá Porã, relacionando os fenômenos
sociais e de gênero que envolvem as mulheres indígenas que são líderes espirituais, nas áreas
de retomada e que nos últimos anos têem sido alvos constante da intolerância religiosa
disseminada pelo crescimento das igrejas pentecostais em seus territórios devido as
impunidades legitimadas pelo racismo institucional e estrutural ao qual estão submetidas não
só as mulheres mas como toda a etnia dentro do estado de Mato Grosso do Sul. O trabalho
termina por apontar as violências sofridas pelas rezadeiras e curandeiras ao longo dos anos de
2019 à 2022 relacionando antropológicos e políticos na interpretação dos fenômenos
apresentados.

”Interculturalidade, conhecimentos científicos e tradicionais na educação escolar indígena: diálogos possíveis”

  • Daniella Corrêa Alvarenga; Maria do Socorro Vieira Coelho

Resumo: A proposta em questão objetiva evidenciar os diálogos presentes e possíveis dentro das Educação Escolar Indígena e problematizar o debate e interações sobre interculturalidade, conhecimento científico e conhecimentos tradicionais na Educação Escolar Indígena, tendo como principais categorias de análise os conhecimentos científicos estabelecidos pela educação não-indígena, os conhecimentos tradicionais presentes nas comunidades e interculturalidade. O texto parte da dissertação de mestrado em linguística, intitulada “Um diagnóstico do ensino das línguas indígenas e português nas escolas Leonardo Crixi Apiaká, Juporijup e Krixi Barompô, na Terra Indígena Apiaká-kayabi, Juara – Mato Grosso”, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade do Estado de Mato Grosso. O trabalho busca evidenciar os diferentes caminhos e diálogos entre os conhecimentos científicos e tradicionais e como essas múltiplas possibilidades vêm se construindo no contexto da Educação Escolar Indígena a partir da interculturalidade. Neste sentido, os povos indígenas estudados vêm construindo em suas escolas, práticas educativas em que sejam pautados os conhecimentos científicos ocidentais, considerados para estes, como relevantes em seus processos de emancipação e alteridade; assim como o fortalecimento de suas culturas, inserindo em seus currículos, os saberes tradicionais das etnias que habitam o território brasileiro. 

”O oguatá das mulheres Kaiowá”

  • Camila Assad Catelan; Antônio Hilário Aguilera Urquiza

Resumo: O presente trabalho objetiva apresentar a narrativa de três mulheres lideranças da comunidade Kaiowá de Ñande Ru Marangatu acerca de suas trajetórias de vida utilizando-se da perspectiva do oguatá. Por meio da escuta dessas mulheres em campo, a categoria nativa que significa caminhada é utilizada na pesquisa com o sentido não somente de um percurso terrestre ou territorial, como também de uma caminhada no interior da existência, tratando da construção de suas histórias enquanto mulheres que percorreram diversos caminhos e trajetórias. Dessa forma, as reflexões territoriais também são acionadas,  uma vez que mobilidade e espacialidade se tornam temas diretamente relacionados, salientando o aspecto relacional que os territórios Kaiowá pressupõem.  

Os Kadiwéu e a antropologia: um ensaio sobre a arte das mulheres ceramistas e seu impacto nos estudos etnológicos”

  • Flávia F. Dalmaso; Antônio Hilário Aguilera Urquiza

Resumo: O presente texto está inserido em um contexto mais amplo do projeto “ceramistas” (Cerâmica indígena em Mato Grosso do Sul: arte, autonomia e inovação entre as mulheres Kinikinau, Terena e Kadiwéu), financiado pela Fundect/MS e parte dos resultados do Edital de “Pesquisador Visitante” (Edital Fundect chamada n. 23/2022). Trata-se de uma releitura acerca de como a Antropologia foi dialogando, ao longo do tempo, com a arte e a cultura material dessas mulheres, em particular, as Kadiwéu. A pesquisa foi basicamente bibliográfica, no sentido de revisitar desde os clássicos, até as publicações mais recentes acerca da temática. Registros sobre a produção indígena de cerâmica em Mato Grosso do Sul não são recentes. Sua confecção, bem como as pinturas que adornavam esses objetos teriam chamado a atenção do comerciante italiano Guido Boggiani quando este viveu entre os Kadiwéu no final do século XIX. Posteriormente, ao longo do século XX, dois renomados antropólogos, a saber, Claude Lévi-Strauss e Darcy Ribeiro, também fizeram uma série de apontamentos sobre as expressões artísticas Kadiwéu, incluindo os desenhos que imprimiam sobre as cerâmicas. Mais recentemente, outros autores e autoras seguiram os estudos acerca da arte ceramista e do grafismo praticado pelas mulheres Kadiwéu, elementos de continuidade e de inovação. Preliminarmente podemos inferir a singularidade da cultura material desta etnia, ao ponto de seguir despertando estudos antropológicos, vinculados aos seus significados e relações com outros elementos da cultura, como a mitologia, organização social e relações entre as parentelas.

ÑE’Ẽ (palavra/alma): Um modo de produção, manutenção e conexão do território”

  • Gileandro Barbosa Pedro 

Resumo: Olhar para o passado é uma característica de grupos humanos como um exercício para entender as implicações do mesmo para o presente, torando-se necessário para produzir uma historicidade coerente e que possa expressar características específicas, singulares na atualidade, que possam ecoar no decorrer do futuro carregando consigo essas particularidades desenvolvidas no decorrer de uma determinada temporalidade, por um determinado grupo, “a história é concebida como conhecimento de experiências alheias”.

Qual o papel dos povos originários na universidade”?

  • Joelma Boaventura da Silva ; Antônio Hilário Aguilera Urquiza

Resumo: O trabalho incide sobre o ensino superior indígena e faz parte da pesquisa de doutorado, em desenvolvimento, intitulada “Povos Originários e universidade multicampi: vivências acadêmicas e processo de reterritorialização” junto ao Programa de Pós-graduação em Difusão do Conhecimento – PPGDC na Universidade Federal da Bahia – UFBA.  A pesquisa estuda os discentes indígenas da Universidade do Estado da Bahia – UNEB e percebeu-se a necessidade de conhecer as universidades do Estado do Mato Grosso do Sul- MS, por ter a segunda maior população indígena do Brasil, o maior percentual de acadêmicos indígenas e sólido acolhimento aos mesmos há mais de vinte anos. Atualmente, no Brasil, são mais de quarenta e seis mil acadêmicos e quatrocentos docentes indígenas em atividade, daí a relevância e a importância do tema. Objetiva-se discutir o papel dos povos originários na universidade a partir das setes entrevistas realizadas em abril de 2023 com dois acadêmicos, um gestor e um docente da etnia terena, dois gestores e uma professora não indígenas. A abordagem é qualitativa, utilizando-se de revisão de literatura na área das Ciências Sociais e Humanas, especialmente, Sociologia, Direito e Educação e análise das entrevistas. Constatou-se que vários conceitos convergem das respostas dadas pelos entrevistados, tanto indígenas como não indígenas, possibilitando uma discussão interdisciplinar e decolonial da temática. Identificou-se uma trinca de termos a partir das análises feitas: Formação + reterritorialização + vivências, reiterando o foco da pesquisa de doutorado. Conclui-se que os desafios da presença indígena na universidade corroboram para a função social da última. 

”Os Papéis Desempenhados Pelas Mulheres Líderes Entre os Kaiowá e Guarani”

  •  Maria Antônia de Oliveira Miranda; Antônio Hilário Aguilera Urquiza

Resumo: O foco do trabalho é a análise das relações das mulheres líderes Kaiowá e Guarani, em contexto de mobilidade Oguatá Porã. Analiso seu papel de líder no fogo doméstico, com dialética de possíveis preconceitos, machismo, violência sexual e assédio. Com o objetivo de ressaltar a importância da elaboração de políticas públicas que garanta os direitos dessas mulheres mesmo em situação de fronteira, assim como a proteção às novas gerações. Através da pesquisa de campo investigar e dar voz a um grupo cultural, até os tempos atuais incompreendidos, subalternizados e colonizados em nossas maneiras de pensar o indigenismo brasileiro, suas afinidades territorial, ambiental e religiosas típicas do sul do Mato Grosso do Sul. E se tratando de um estado com dificuldade cultural de aceitação de suas raízes indígenas, e historicamente colocando à margem da violência nas fronteiras o povo kaiowá e Guarani, e os condicionando a conflitos com ruralistas por território. Quanto à metodologia, busquei nas últimas publicações da Grande Assembleia das Mulheres Kaiowá e Guarani – Kuñangue Aty Guasu, analisar suas propostas e a realidade como corpo-território. A importância da mulher kaiowá e Guarani para a manutenção cultural deste grupo, me aproximo do conceito de organização social da parentela, que é denominado fogo doméstico. Esse local será onde as famílias estabelecem seus laços consanguíneos e identidade, onde circula suas crenças espirituais e aprendizados; responsável na grande maioria pela mulher, o papel de organizar o centro desse fogo, em contexto de mobilidade e retomada.

Aldeia Mãe Terra: A Luta Pelo Território Tradicional dos Anos 70 Até os Dias Atuais de Uma Retomada Terena”

  • Elvisclei Polidório

Resumo: O tema do presente artigo é o processo de retomada da Aldeia Mãe Terra pelos Terena da região de Miranda–MS da TI Cachoeirinha, parte de um analise histórico bibliográfica do processo de ocupação e reconhecimento do território para entrevista com os integrantes da comunidade em questão. Tem como problemática a falta de demarcação física de um território que possui o reconhecimento pela FUNAI e tem portaria declaratória pelo Ministério da Justiça. O objetivo geral é o de conhecer a atualidade da Aldeia Mãe Terra, identificando através da historia oral a memoria da comunidade sobre o processo da luta. Os objetivos específicos estão em torno de uma revisão da literatura histórica da ocupação, combinada com os relatos contemporâneos sobre os eventos passados, avaliação da vida presente e expectativas da vida da comunidade no futuro. Usa como metodologia um levantamento bibliográfico combinado com entrevistas e relatos pessoais das experiências da retomada numa pesquisa qualitativa, baseada em uma observação participante. Justifica-se por ajudar a manter vivos os relatos dos anciões numa cultura de oralidade e pela importância de uma educação escolar indígena de nível superior para compreender a historia do povo indígena Terena e conscientizar sobre as lutas atuais desse povo.

”Educação Escolar Indígena Entre os Guarani e Kaiowá em Caarapó-MS : Demandas por Escola no Contexto da Agenda de Lutas”

  • Jhemerson da Silva e Neto; Antônio Hilário Aguilera Urquiza; Harryson Júnio Lessa Gonçalves

Resumo:O presente trabalho trata de apresentar o projeto de pesquisa de dissertação – em andamento – junto ao Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS), da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o qual se inscreve no contexto das discussões acerca da interface entre Antropologia e Educação Escolar Indígena (EEI). Tem como objetivo propor uma etnografia na qual se possa interpretar os movimentos e tensionamentos que agem na construção da EEI enquanto educação diferenciada no âmbito da/na Escola Municipal Indígena Ñandejara, do povo Guarani e Kaiowá, no município de Caarapó-MS. Como perspectiva teórica, propõe uma interlocução entre autores(as) que (entre)tecem reflexões entre EEI a partir da Antropologia, bem como aspectos de uma fundamentação teórico-etnográfica. No que tange aos pressupostos metodológicos, propõe a etnografia como instrumento analítico, bem como a utilização de elementos próprios dessa abordagem, tais como: diário de campo, caderno de campo e observação participante, sendo esta alinhada à perspectiva das afetações. Além disso, utilizar-se-á de questionários semiestruturados junto às conversas com lideranças, professores(as)-indígenas, anciões e outras pessoas da comunidade. Os resultados dessa pesquisa poderão apresentar possibilidades de contribuição no âmbito da EEI para o povo Guarani e Kaiowá, mais especificamente, uma vez que propor-se-á a investigar os efeitos da escola, seus processos de ressignificação pelos povos indígenas, contribuindo em suas agendas de lutas, bem como compreender as demandas indígenas por escola(s) alinhadas aos seus projetos societários.

‘Terras, moradores e moradoras da Terra Indígena Panambizinho e do Quilombo Dezidério no município de Dourados: símbolos centrais de resistência, mobilidade nas fronteiras e luta pelo território”

  • Ester Silva

Resumo: O presente trabalho consiste em, através de relatos dos atores presentes nos processos históricos da luta em defesa do direito à terra, no Estado de Mato Grosso do Sul, perceber os conflitos étnicos e raciais que perpassam essas reivindicações. O estudo resgata o processo de ocupação desses espaços, onde busca compreender, as epistemologias envoltas no mesmo e as formas alternativas de relações sociais que compõem a essência desse processo. Através do registro de visitas de campo, este trabalho apresenta às terras, os moradores e as moradoras da Terra Indígena Panambizinho e do Quilombo Dezidério no município de Dourados, como símbolos centrais de resistência nesta análise intercultural sobre, mobilidade nas fronteiras e luta pelo território. Observou-se também como-o avanço da luta pelo lugar de pertença, apenas pode ganhar efetividade, se considerado no sistema de organização social que se apresenta, uma paridade de interesses entre a sociedade civil e seus reconhecidos dirigentes. A metodologia utilizada envolveu pesquisa bibliográfica, e a escuta-ativa de lideranças das comunidades visitadas.

 

 

 

 

 

 

 

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