Antropologia e Violência de Estado – Compreendendo as Dinâmicas Socioculturais, Impactos e Resistências.
Este grupo tem como objetivo explorar e analisar as interações entre a antropologia
e a violência de Estado, fenômeno complexo e multifacetado que tem impactos profundos nas
sociedades contemporâneas. Pelas lentes da antropologia, os debates buscarão compreender
os mecanismos que sustentam a violência de Estado e explorar as formas de resistência e
transformação social diante de tais excessos. Os objetivos são investigar as teorias e
abordagens utilizadas para compreender a violência de Estado, analisar as dinâmicas
socioculturais que a sustentam e suas ramificações nas estruturas de poder e nas relações
sociais em seus múltiplos aspectos, como repressão política, violência policial, militarização e
violações de direitos humanos. As propostas podem discutir a realidade das comunidades
afetadas, incluindo traumas individuais e coletivas, segregação social, mudanças nas práticas
culturais, estratégias e resistências adotadas por grupos que enfrentam diretamente a repressão
estatal, proporcionando um espaço para o diálogo interdisciplinar e o compartilhamento de
pesquisas, experiências e reflexões. Abre-se uma oportunidade de debates sobre a violência de
Estado, ações de repressão, militarização e suas consequências nas comunidades, violações de
direitos humanos, articulação de movimentos sociais diante de abusos, memória, trauma e
reparações, e ainda as narrativas e representações na cultura e na mídia. O grupo de trabalho
busca promover a participação de pesquisadores, acadêmicos, estudantes e profissionais que
tenham interesse no tema, sendo aceitos trabalhos que apresentem pesquisas teóricas e
empíricas, estudos de caso, análises de políticas públicas, reflexões teóricas, entre outros
formatos que contribuam para a discussão do tema.
”Identidade, Corpo e Representação Indígena em Noticiários Regionais”.
David de França Brito
Resumo: O presente artigo tem como centralidade uma análise descritiva e reflexiva de reportagens em jornais locais, com enfoque em um caso noticiado entre os dias vinte e um e vinte e dois de junho do ano de dois mil e vinte e três, encontrado através do marcador de busca: indígenas, em um recorte de tempo delimitado, com curadoria voltada as reportagens sobre morte indígena. As questões que permeiam tal análise estão em torno das identificações que tem os indígenas nas reportagens observadas, considerando a organização e a posse do discurso, sua adjetivação e a construção de uma narrativa jornalística coletiva. Entre os problemas abordados está essa imagem que representa os sujeitos indígenas e seus corpos em narrativas jornalísticas, portanto sociais. Tem como metodologia uma análise descritiva e reflexiva sobre materiais digitais, numa interlocução entre reportagens jornalísticas sobre uma denúncia de negligência, considerando as identificações presentes nas reportagens da narrativa. Torna-se assim, uma observação descritiva que busca trazer essa estruturação e construção das reportagens analisadas, percebendo as identificações e pressupostos.
”Os Órfãos do Feminicídio no Âmbito da Antropologia Forense”
Bárbara Ferreira Ávila do Carmo; Priscilla Lini
Resumo: O feminicídio é um crime cotidiano no Brasil, fruto de um patriarcado arraigado em nossa história marcada pelo colonialismo. Crime que deixa centenas de órfãos negligenciados pelo Estado ano após ano, que resultam em inúmeros problemas sociais, inclusive na reverberação da prática de violência doméstica por estes órfãos. Esta pesquisa ainda em andamento, tem por objetivo buscar ferramentas para a redução dos índices de feminicídio. A partir disso, realizou-se uma análise bibliográfica, de maneira especial o “Modelo de protocolo latino- americano de investigação das mortes violentas de mulheres por razões de gênero (femicídio/feminicídio)”, desenvolvido em 2014 pela ONU Mulheres e as cartilhas do o Comitê Internacional da Cruz Vermelha, conforme os documentos: “A ciência forense e a ação humanitária”, abril de 2014 e “Saúde mental e apoio psicossocial”, fevereiro de 2017. Os dados analisados apontam que a ciência da antropologia forense propõe ferramentas para redução dos índices de criminalidade com a punibilidade dos crimes através da condução ideal das ações penais e além de cuidados e atenção especial a saúde psicoemocional das vítimas desse tipo de crime, em especial os órfãos.
”As Formas de Violência Contra os Povos Indígenas no Mato Grosso do Sul”
Elídio Vicente Pereira Neto
Resumo: O presente artigo realizará a tentativa de exercer uma certa reflexão no que diz respeito aos crimes e mortes relacionadas aos povos indígenas no estado do Mato Grosso do Sul. O artigo será dividido em três partes: a primeira, remete as constantes batalhas em que os povos indígenas têm que travar contra produtores rurais e fazendeiros, havendo casos até mesmo de assassinatos. Na segunda parte traremos à tona os casos de morte originados pelo suicídio nos povos indígenas Kaiowá. Por fim na terceira parte, a discussão se dá na relação da mídia com os casos de crimes envolvendo os povos indígenas no estado do Mato Grosso do Sul.
”Escrevivência Transgressora: teorização crítica biográfica fronteiriça”
Dênis Angelo Ferraz; Marta Francisco de Oliveira
Resumo: Com este trabalho, (recorte de pesquisa do mestrado em estudos e linguagens) visamos erigir uma reflexão pautada na crítica biográfica fronteiriça para pensar a realidade de milhões de corpos fronteiriços, que se levantam/insurgem para assim buscarem re-existir, em uma opção que se configura como alternativa ao pensamento hegemônico. Nesse intento, optamos por leituras de cunho descolonial, com base na ideia de transgressão como forma de expressão, erigida a partir de corpos insurgentes, questionadores, que acabam por serem considerados como corpos inconvenientes. Visto que, para nós, homens e mulheres de pele preta, desde o sequestro de nossos antepassados do continente africano, se instaurou o processo genocida que se deu a partir da escravidão e que se propaga até os dias atuais, historicamente, a transgressão, advinda de transgredir a um estatuto de violência, que nos aponta como negros do cão, maus, ou mesmo como bandidos, pode até ser entendido como uma infração. Porém, transgredir tem sido a única a alternativa de resistência em prol de uma vida minimamente digna. Tal concepção, a qual intitulo de escrevivência transgressora, se configura como ato insurgente, fazendo coincidir o pensamento teórico e a prática da pesquisa, como mimetização de conteúdo e forma. Isso é caracterizado, nessa reflexão, pelo processo que vai do silenciamento ao grito, orientado por Walsh, Mignolo, Santos. Equivalente à ideia de que aprender a teorizar para des-teorizar para assim re-teorizar, implica dizer que, dessa forma, ressalta-se a busca de uma teorização não mais submissa ao norte global e suas imposições.
”O Espetáculo no Caso do Maníaco da Cruz”
Iris Graziela Teles Machado; Asher Brum; Priscila Lini
Resumo: O presente artigo apresentará uma análise das notícias relacionadas ao caso do Maníaco da Cruz, fazendo um paralelo com a Morte e mídia: matar e morrer na sociedade do espetáculo e uma história da morte e da vida. Exageros do corpo, ascese e rituais de purificação. O corpo vivo, o corpo enfermo e o corpo morto. Buscando compreender como esse caso especificamente causou uma comoção por suas particularidades ritualísticas e pelo macabro, que causa fascínio e medo nas pessoas que tem acesso as notícias, mas que por algum motivo consomem esse tipo de noticiário sob o pretexto de uma falsa proteção. Utilizaremos a netnografia, para analisar as notícias e as narrativas jornalísticas presentes no trabalho, contemplando ainda os sites e canais no youtube que focam em casos criminais, usaremos uma perspectiva de Clifford Geertz nas descrições e nas análises de vídeo para entender os comportamentos corporais e de narrativa, utilizaremos Albert Piette.
”Da Repúlibica ao Leviatã: Breves Considerações Acerca da Violência Estatal e Seus Impactos Sobre Os Povos Originários”
Marco Antônio Rodrigues
Resumo: O presente trabalho tem por objetivo analisar algumas concepções sobre a tese de Trasímaco e a legitimidade da violência estatal contida na obra de Hobbes como fundamentos da ineficácia do Estado brasileiro em face de questões envolvendo povos originários. Atualmente verifica-se a tese do Marco Temporal, ainda pendente de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal, cujos fundamentos estão apoiados em uma construção jurídica que ignorou as diversas nuances da sociedade, além de não observar o caráter pluralista da Constituição Federal de 1988, concorrendo para inúmeras violações contra os direitos dos povos indígenas. Aliado a esse fato, encontra-se o neoliberalismo e a vinculação do Estado ao poder econômico, contribuindo para um panorama de total insegurança jurídica e violência, consideradas válidas em diversos aspectos. Partindo-se da pesquisa exploratória, por meio de fontes bibliográficas, jurídicas e antropológicas, conclui-se que a disposição constitucional contida no artigo 231 acaba fragilizada a partir de estados de desvalor criados pela ambivalência da ordem normativa positivada e, portanto, legítima. Através do método indutivo, o trabalho buscará chegar ao resultado esperado.